A hóstia de papel

         Certa feita, de uma pequena cidade, saiu uma das maiores blasfêmias já comentadas pela igreja. Nessa cidade havia uma igreja, com cerca de 100 pessoas, não mais do que isso.

         Tecnicamente, era de se esperar que fosse uma igreja sensacionalista, mas não. Todos os fiéis participantes dos cultos matutinos de domingo eram honrosos e sérios membros da sociedade e não pretendiam ser famosos. Da mesma forma, o pastor da congregação não aspirava ser reconhecido como um grande e eloquente pregador, apenas queria realizar o trabalho que lhe fora designado na Terra.

         Em meio a mais um culto normal, o pastor recebe uma revelação dos céus: deve haver unidade entre alguns irmãos da igreja. E decide picar pedaços de papel para representar a ”ceia”, trocando os papéis entre si, mas sem comê-los.

         Diz a lenda que a história chegou assim ao centro do país: o pastor havia afundado a igreja em dívidas, e que faltou pão em meio a uma santa ceia, decidindo ele dar pedaços de papel para os fiéis comerem. Em meio a tudo isso, uma das moças que cantava, enfurecida, arrancou o microfone da mão do pastor, dizendo que se negava a comer papel sem ketchup, jogou o microfone na cabeça do tecladista, virou as costas e foi embora esbravejando.

         Diz a lenda, também, de que a ficção não é realidade, e sim fruto da imaginação. Eu digo que a realidade e a ficção, juntas, dão no mínimo, algo interessante.